Uma história que abre a conversa
Vou começar este texto com uma história. Entre 2011 e 2014, trabalhei em um projeto de mineração e, em uma capacitação com colegas, um profissional da área socioeconômica fez um comentário que me marcou: “É muito engraçado: a gente sempre vê manifestações em defesa da arara-azul e do meio ambiente, mas nunca em relação à sociedade.”
Minha resposta foi imediata por entender que a sociedade não é passiva diante de empreendimentos que geram impactos ambientais. Pelo contrário, se há manifestações em defesa do meio ambiente, é porque essa é uma pauta da sociedade – uma forma de demonstrar como os impactos afetam não apenas a natureza, mas também suas vidas. E é a partir dessa provocação que exploro o tema dos protocolos comunitários de monitoramento.
Do monitoramento técnico à interação com a sociedade
No texto anterior, discutimos a importância de definir premissas para um programa de monitoramento ambiental eficaz, com propósitos claros e parâmetros que gerem dados significativos em relação aos impactos previstos nos estudos. Agora, avançamos para outra discussão crucial: a interação entre meio ambiente e sociedade.
Como eu disse ao meu colega na época: “Você nunca verá uma arara-azul protestando com uma plaquinha contra a degradação ambiental.” Essa é uma pauta da sociedade – e os protocolos comunitários são um passo adicional para tornar o monitoramento mais eficaz, pois envolvem a população local.
Partes interessadas e licenciamento
Imagine um empreendimento que fez seu “dever de casa”: caracterizou seus impactos, contextualizou o ambiente e analisou como esses fatores afetam a relação da comunidade com o território. Essas pessoas são partes interessadas — talvez as mais importantes, até mais do que o próprio órgão licenciador, e os protocolos comunitários de monitoramento podem auxiliar na melhoria do relacionamento com as pessoas dessa comunidade.
Como funcionam os protocolos comunitários?
Eles se baseiam em transparência e empoderamento:
- Capacitação: A comunidade aprende sobre os parâmetros monitorados, como funcionam os equipamentos e como interpretar dados — de forma acessível, para que todos entendam e confiem no processo.
- Pactos: Estabelecem-se acordos claros de monitoramento, com comunicação aberta e ajustes colaborativos (ex.: frequência de coleta, horários mais adequados).
- Melhorias contínuas: Como a comunidade está presente diariamente, pode sugerir aprimoramentos para tornar o programa mais eficiente.
Por que adotá-los?
Essa abordagem ainda é pouco difundida, mas traz benefícios como:
- Licença social para operar: Uma relação fortalecida com a comunidade, que passa a entender e concordar tacitamente com as operações.
- Prevenção de conflitos: Em caso de acidentes, a comunidade estará informada e mais segura, sabendo como os impactos são monitorados e mitigados.
Encerramento
Já conhecia os protocolos comunitários de monitoramento? Ficou com dúvidas? Entre em contato com a Ecero!